Em 13 Bankers, Simon Johnson e James Kwak descrevem um acontecimento no final dos anos 90, quando o Larry Summers, então no Tesouro, ligou para a Brooksley Born, a então chefe da Commodity Futures Trading Commission, e disse: “I have 13 bankers in my office and they say if you go forward with this you will cause the worst financial crisis since World War II.” O final da história já é conhecido: o setor financeiro continuou desregulado e a sua ampliação, juntamente com suas inovações, foi uma das grandes causas da crise financeira iniciada em 2007.
Passados cinco anos do início da crise, observa-se que os avanços na regulação financeira ainda são muito pequenos. 13 Bankers tenta mostrar justamente a influência do setor financeiro na Casa Branca. Segundo o livro, o setor financeiro seria a nova oligarquia americana, em comparação com aquela formada pelos gigantes industriais (maioria ligados a J. P. Morgan) no fim do século XIX. Um outro episódio com 13 banqueiros, desta vez com Obama, ilustra bem esse fato: em uma tarde de março de 2009, governo disse, após reunião com a turma, que ele e os bancos estavam juntos. Os bancos precisavam do Estado, e muito. Mas porque o Estado precisava tanto da boa vontade destes bancos?
Assim, o fato é que a indústria financeira continua atuando nos bastidores para que nada, ou muito pouco, seja feito. Esse pelo menos é o diagnóstico de outros importantes livros sobre a crise lançados nos últimos anos, como por exemplo, o Freefall do Stiglitz.
Admati e Hellwig, em New Bankers Clothes, compartilham da mesma visão e discutem medidas para a regulação. A medida singular mais efetiva é simplesmente o aumento do capital próprio dos bancos, para algo em torno de 20% a 30%. Dizem ainda que nunca ouviram nenhum argumento consistente contrário a essa medida. O setor financeiro defende que a exigência de muito capital aumenta os seus custos e diminui a eficiência do setor, mas o fato é que se existe alguma redução de custo em usar uma alta alavancagem, ela ocorre justamente pelo seguro grátis que recebem da sociedade, já que o governo na maioria das vezes entra salvando um banco em falência. Fazer com que bancos coloquem mais capital próprio em seus investimentos certamente traria mais prudência e alinhamento de incentivos.
Os autores colocam que antes dos anos 80, a regulação financeira focou mais em liquidez do que exigência de capital. Embora seja necessário que a regulação também olhe para a liquidez, no limite, problemas de liquidez podem (e devem) ser resolvidos por um emprestador de última instância. A lógica é que se o ativo é bom e só está sub-avaliado devido a um excesso de vendas, esse emprestador pode comprar e depois revender. O detalhe é que ele deve ser público. Em 1907, lembram os autores, esse papel foi exercido pelo J. P. Morgan em pessoa. Mas quando se trata de um ente privado, sempre acaba havendo conflito de interesse (em relação aos negócios do grupo).
Outras medidas urgentes seriam melhorar a transparência das instituições, facilitando o trabalho de reguladores e público em geral. O diagnóstico é que foram desenvolvidas contabilidades criativas para manter muitas contas fora do balanço e isso deve ser coibido através de penalidades. Ativos e passivos que se cancelam são o foco principal. Outro ponto importante é relacionado à ponderação de ativos pelo risco em fórmulas de exigência de capital, que talvez não determine incentivos corretos. Pode gerar racionamento de crédito para determinados segmentos e repacotamento de ativos, transformando em títulos com maior rating. Quando uma classe de ativos acaba incorretamente categorizada como segura, pior ainda. Pode induzir um aumento de risco em momentos em que a falência já é certa, já que o banco ganha incentivos para se alavancar ainda mais.
Um outro livro, Slapped in the Face by the Invisible Hand, de Gary Gorton, explica bem o que houve durante a crise: uma corrida de bancos aos bancos, ao invés do público aos bancos, no repo market. Com um enorme shadow banking system e vários produtos financeiros criativamente criados, desconhecidos de grande parte do público e até de muitos economistas, essa interpretação simples ficou difícil de verificar, mas foi exatamente o que aconteceu, por meio da subida de haircuts naquele mercado sob pânico. O choque foi justamente o momento em que o preço dos imóveis começou a cair. Gorton também tem suas sugestões de regulação. Dentre elas, maior supervisão à securitização e entrada limitada na securitização (buscando garantir a insensibilidade à informação da dívida – colaterais – e a entrada do shadow banking para a órbita da regulação).
Assim, no que se refere à regulação do setor financeiro, pouco foi feito. Mas não tão pouco para Alan Blinder, em seu After the Music Stopped. Resenha do NYT diz que “Blinder is also fairly satisfied with the controversial Dodd-Frank Act of 2010 that overhauled American financial regulation — although perhaps his praise is largely a reflection of his low expectations. He does not think Dodd-Frank will make financial crises a thing of the past, and is not even sure it will make them rarer. However, Blinder claims, it should reduce the severity and costs of future financial excesses”. Como não li o livro, não posso ir além. Mas talvez Blinder só não ache mesmo que a evolução da regulação financeira (por meio do Dodd-Frank Act) tenha sido tão ruim por causa de suas baixas expectativas em relação a ela. Lembre-se dos 13 banqueiros.